Racismo a brasileira
Semanas atrás durante a disputa
de uma partida de futebol entre duas das mais renomeadas equipes do Brasil,
ocorreu um lamentável incidente que não é raro, mas que neste caso ganhou
repercussão devido as seqüência do seu desenvolvimento fora do gramado.
O “Grêmio Porto-alegrense” recebeu em seu
estádio na capital gaucha o “Santos Futebol Clube”. Essas duas agremiações
futebolísticas ostentam em seus históricos, conquistas das mais relevantes,
sendo que tanto um quanto o outro já foram campeões mundiais. Por isso são
muito respeitados e sempre que se enfrentam proporcionam aos milhares de
torcedores momentos de grande emoção.
A imoderada torcida gremista a
maioria vestindo a tri colorida camisa azul, preta e branca ocupava mais de 90%
das arquibancadas e desde os primeiros minutos estendia suas imensas bandeiras
e agitava suas flâmulas alusivas a cada uma das suas “facções” com grande
alarido.
Iniciada a porfiria
desenrolava-se com aquela intensidade característica dos grandes embates
esportivos entremeada de lances notáveis e medianos de ambos os lados, até que
o Santos fez um gol, para desgosto dos gremistas que voltaram dispostos a
empatar e virar no 2º tempo. Uma coisa que nenhum torcedor gosta é ver seu time
perder em casa, imagine um gaucho torcedor do Grêmio, um time campeão.
As torcidas quando vão aos
estados levam na cabeça além do barrete ou chapéu com as cores do seu clube,
inúmeras formas de incentivar os seus craques e ao mesmo tempo variados e
ultrajantes vocábulos para envilecer os atletas adversários.
A maioria dos torcedores vai aos
estádios para estimular seu clube, logicamente na expectativa de alcançar a
satisfação de lazer, passatempo ou mania. Mas a verdade é que hoje muitos vão
aos campos de futebol para desabafar anonimamente, seus diferentes recalques e
complexos.
Esses calhórdas disfarçados de
torcedores, quando em maioria utilizam-se de grossas ofensas aos craques
adversários para pertubá-los. Aplaudindo o seu time e apupando o rival, o
torcedor educado já faz seu papel, todavia muitos excedem-se estupidamente.
Careca, cabeludo, alto, baixo, gordo, magro, feio, narigudo etc, tudo é mote
para esses cafajestes insultaremos visitantes.
Agora quando o time da casa está
perdendo, como naquele jogo e a equipe visitante tem atletas negros, a situação
agrava-se, pueril e vergonhosamente. Por
que: no Brasil, rico país construído com suor e sangue africanos, o negro tem
sido histórica e criminosamente pisoteado. Consoante a tão sórdida prática um
grupo de torcedores do Grêmio passou a ofender grosseiramente o goleiro do
Santos, o Aranha, que indignado mostrou ao juiz os torcedores que estavam
atormentando-o injuriosamente, xingando-o de tudo quanto é nome, chamando-o
insistentemente de macaco.
A recalcada torcedora foi
encontrada e tachada de racista pela mídia (TV, rádio, jornais etc, foi
“apedrejada” pelas redes sociais, vindo a sofrer repressões. Dizem que foi expulsa da torcida
organizada até perdeu o emprego. Quanta hipocrisia e cinismo! Como sempre acontece
nesse tipo de ocorrência logo apareceram às personalidades “midiáticas e os
indefectíveis cientistas sociais” e políticos “democratistas” a comentar o
caso. Todos demonstrando solidariedade ao negro Aranha e condenando a
torcedora, atribuindo-lhe a pecha de abominável racista.
Uma coisa passo afirmar: “Racista
ela não é”
Você vai dizer: “Como não é
racista, se ela chamou um negro de macaco e reconheceu isso pedindo desculpas
ao goleiro Aranha?
Explico:
A torcedora assustada com a
repercussão do caso e diante das evidências mostradas pela TV, não tinha
alternativa e reconheceu o seu erro, e, instruída ou induzida pediu desculpas
ao santista. Entretanto, mesmo que ela não pedisse desculpas, não poderia ser
indiciada como racista”. Agora você me
olha admirado, pois sabe que sou veterano ativista do Movimento Negro e me diz:
“não estou entendendo a sua posição se todo mundo diz que ela é racista e você
veterano do Movimento Negro vem defender essa moça?
Eu respondo:
Acontece que o racismo praticado
no Brasil é um crime (quase) perfeito.
O nobre professor Kabenguelê
Munanga um dos mais competente e honesto estudioso das relações étnico/raciais
do Brasil. Afirmou em entrevista a uma revista o ano passado que... ”o racismo
brasileiro é o crime perfeito”.
Ao ler a reportagem admirei a
coragem do emérito cientista congolês aqui radicado há décadas, pois que dos
tais sociólogos, etnólogos e cientistas sociais brasileiros é um mar de
asneiras e cínicas distorções o que mais se vê. No caso da torcedora gremista
fica evidente que houve um insidioso “conluio midiático” para conferir-lhe o
rótulo de racista, com o qual
não concordo por razões óbvias:
1º) Conforme o exposto lá em
cima. É cultural nos campos de futebol, torcedores de uma equipe, apuparem os
atletas adversários estendendo as hostilidades a torcida rival.
2º) Todos torcedores,
jornalistas, dirigentes, policiais, juízes e auxiliares, empresários,
patrocinadores e publicitários sabem disso. Qualquer garoto/a que já foi a um
campo de futebol também.
3º) Os torcedores só insultam os
atletas negros da equipe adversária,
aplaudindo e bajulando os negros do seu time, chegando a registrar seus
filhos com os nomes de atletas negros.
A imensa torcida corintiana
refere-se ao Palmeiras como Porco
e aos palmeirenses como porcos. Os palmeirenses por sua vez referem-se aos
corintianos como gambás,
maloqueiros, trombadinhas etc. Corintianos e palmeirenses xingam os são
paulinos de Bambi, que é um veadinho.
Os são paulinos tratam corintianos
e palmeirenses por seus apelidos zoológicos naturalmente.
Quando uma equipe está jogando
mal e o técnico tentando melhorar, faz uma substituição errada, milhares de
torcedores do próprio time apupam-no chamando-o de: Burro, burro...burro,como
ocorreu com o Geninho, técnico do Corinthians. Os exemplos similares são muitos
por aqui, o que evidência que esse comportamento dos torcedores faz parte do
“folclore futebolístico brasileiro”. E nada disso é racismo é uma grosseria.
Não estou dizendo que aceito o estúpido comportamento dessa moça e seus colegas
gremistas, mas repito, isso não é
racismo. É reflexo de sua grosseira falta de educação associada aos
seus prováveis complexos de inferioridade puerilmente vomitados das
arquibancadas em direção ao “Aranha””, que provavelmente, tem um padrão de vida
melhor que o dela e seus familiares.
Se processada a gremista poderá
ser condenada a pagar uma pequena multa, prestar serviços a uma entidade social
e ou ser proibida de freqüentar estádios de futebol por tempo limitado.
Onde está o Racismo?
Então porque a mídia fez esse
estardalhaço!
Não é fácil explicar, mas vou
tentar.
Os meios de comunicação (TV,
rádio, jornais, revistas, cinema, teatro etc) são administrados pelas “classes
dirigentes” do país, cujo princípio há mais de 160 anos é manter o negro
segregado, marginalizado e submisso.
Por exemplo, quando uma equipe
entra em campo, mormente nos grandes jogos, é comum cada craque levar uma criança
pela mão vestindo o uniforme do clube. Raras vezes vi uma criança negra. As
equipes inglesas e francesas levam sempre crianças negras e brancas.
Entre as principais equipes do
país, que pagam salários altíssimos aos seus técnicos, entre 50 e 500 mil reais
mensais, rarissimamente encontramos um negro como técnico e temos excelentes
profissionais negros nesse
estratégico setor. Acompanho futebol desde fins da década de 1940 e nunca vi um
presidente de clube renomado no Brasil; negro.
Raramente aparece um diretor, mesmo subalterno negro.
Entre os cronistas de futebol que
também são muito bem remunerados, dificilmente encontramos negros. Um ou outro,
mas por pouco tempo durante as copas.
Negros como juízes de futebol só
começaram a aparecer nos últimos 30 anos, o que é um absurdo proporcionalmente
em relação ao número de atletas negros praticantes do esporte mais popular do
país. Na Confederação Brasileira de Futebol, a poderosa CBF não entra, a não
ser quando em caso de “indisciplina” vais ser julgado e quase sempre recebe
pena mais rigorosa do que aquela aplicada aos outros atletas.
Todas essas evidências de
discriminação e segregação racial, estupidamente praticada contra o negro no
futebol brasileiro, tipificam claramente o crime de racismo e são sobejamente
conhecidas pelas nossas autoridades; tanto as esportivas quanto as outras
autoridades e órgãos representativos oficiais como OAB - Ordem dos Advogados do
Brasil por exemplo.
Ao que parecem, nossas
instituições oficiais e oficiosas ao fazerem sistematicamente “vistas grossas”
aos contumazes infratores, incitam-nos a prosseguirem em suas ignóbeis
práticas, afrontando insolentemente a nossa legislação diante da complacência
do sistema juridiciario brasileiro.
O Falso Racismo
Ao tentar capciosamente transformar
aquela simplória gremista como seu “Bode expiatório”, a torpeza da súcia
racista explode de forma berrante. Fazendo estardalhaço em torno de um caso que
evidentemente não é racismo,
a corja segregacionista tem como objetivo prioritário enfraquecer a luta dos
afro-brasileiros pelo “direito a Igualdade Racial”, secularmante aspirada pela
Comunidade Negra.
Quando participou da “3ª
conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e
Intolerância Correlata”, realizado em Durban África do Sul, entre agosto e
setembro de 2001. O Movimento Negro, representado por diversas entidades que
atuam em nosso país pelo “Direito a Igualdade Racial, demonstrou
estatisticamente que; a estarrecedora concentração de renda no Brasil, só
favoreceu os eurodescendentes e outros minoritários grupos étnicos alienígenas,
aqui recentemente estabelecidos.
Forçados a reconhecer as
injustiças historicamente perpetradas contra os negros, as autoridades
brasileiras assumiram o compromisso de diminuir as clamorosas desigualdades
entre negros e brancos no Brasil.
As Cotas para Pobres/Negros
Entre as várias propostas
apresentadas pelo Movimento Negro em Durban em 2001, constam a instituição
oficial de reserva de vagas para negros nas universidades e faculdades do
ensino superior, ou seja, “Cotas”, percentuais para negros e pobres. O ponto
referencial é que os aspirantes as cotas devem ter um currículo do ensino
básico em escolas públicas, cuja deterioração é notória nas últimas décadas no
Brasil. Até 2002, 93% (noventa e três por cento) dos negros estudavam em
escolas públicas. No Brasil só negros e aborígenes estudam em escolas públicas,
os outros grupos étnicos somente em caso de pobreza.
“Outra medida proposta pelos
representantes do Movimento Negro, foi à inclusão da História da África, dos
africanos e de seus descendentes, os negros, no currículo pedagógico oficial”
com o respeito merecido, sem as injuriosas distorções e/ou as fraudulentas
omissões cometidas por “difamadores velhacos” travestidos de compendistas e
historiadores.
As recomendações de Durban em
2001 foram enviadas ao nosso presidente, mas como de costume, o Sr. Fernando
Henrique Cardoso, desdenhou-as puerilmente. Somente após a posse de Lula em
2003 é que foram levadas a sério, tanto que em seus primeiros dias no Planalto
assinou a Lei Federal 10.639/2003, que oficializou as cotas para negros e
pobres no Brasil.
Foi Lula que implementou medidas
acessórias em todos os setores do seu governo instando-os a tomarem medidas
objetivas no processo de inserção dos negros social e profissionalmente,
decretando uma série de iniciativas propulsoras a elevação da auto estima do
afro-brasileiro como individuo e a Comunidade Negra como um todo.
Várias medidas tomadas em setores
fundamentais do governo federal instavam governadores, prefeitos e autoridades
de modo geral a desenvolver e/ou apoiar medidas de estímulos as “Ações
Afirmativas” em relação aos negros no contexto histórico brasileiro. O PROUNI,
por exemplo, entre 2005 e 2007 ofereceu 414 mil bolsas universitárias, das
quais 44% foram conquistadas por jovens negros que em muitos casos superaram os
outros não cotistas em seu
aproveitamento a nível catedrático “quebrando a cara” dos ineptos analistas
sociais brasileiros, sectários retardados do charlatão Agassiz, execrável
picareta internacional, aloprado cupincha do infame José Artur Gobineau.
Resumindo; embora a maioria dos
negros e afrodescendentes ainda permaneçam alienados e dóceis, os ativistas do
Movimento Negro, tem alcançado com muita pertinácia aumentar o espaço que lhe é
devido na sociedade brasileira, tendo como um dos mais efetivos meios as “Ações
afirmativas”.
Em outubro de 2012, o jornalista
Elio Gaspari comentava em sua página dominical na “FSP”, a transformação que as
“Ações Afirmativas” operavam no ensino superior no Brasil. Os negros que antes
do Lula presidente só entrava nos campus universitário (quando entravam) como faxineiros
e/ou porteiros, agora graças as “Cotas Sociais e Raciais” já são visíveis em
números consideráveis, surpreendentes mesmo. De acordo com a matéria do Elio
Gaspari, em fins de 2012, 265 mil cotistas já tinham concluído diversos cursos
superiores naquele ano.
A verdade é que o acesso do
afrobrasileiro aos campus universitários veio ampliar sua vida social elevando
sua auto estima. Os setores oficiais obrigados a enfocar de modo honesto e
realista a importância da África, do africano e do negro no árduo processo de
constituição do Brasil como nação, levaram igualmente outros segmentos étnicos
aqui radicados, a reconsiderar seus injustos e equivocados conceitos soe o
negro no Brasil.
A nova postura da sociedade brasileira
reconhecendo a fundamental importância do africano e do negro na consolidação
do nosso país física e material, escravizados por m ais de 350 anos, mas também
e principalmente pelas extraordinárias doações intelectuais advindas da milenar
diversidade cultural africana.
As “Ações Afirmativas” promovendo
a Consciência de Cidadania entre os afrobrasileiros, além de combater a
perversa desigualdade aqui reinante contribuiu efetivamente para o
desenvolvimento do Brasil.
É quase impossível uma nação
progredir quando mais da metade de seu povo é marginalizada e constrangida,
como tem sido o negro no Brasil, um país ainda ocupado. Mais esclarecido e
preparado os negros exigem das autoridades respeito aos seus direitos
constituídos, isto é; querem melhorar a sua qualidade de vida, recebendo das
instituições oficiais os mesmos tratamento dedicados aos outros segmentos
étnicos aqui estabelecidos nos últimos 160 anos.
A bandeira da Igualdade Racial
empunhada pelo Movimento Negro é antes de tudo um brado contra a injustiça
social que sufoca o nosso povo e tem recebido apoio de brasileiros de todas as
origens aqui viventes. Infelizmente o nosso rico país, suporta infiltrado em
postos relevantes de sua administração, poderosos grupos que tanto nas áreas
públicas quanto nos mais influentes setores privados; perpetram as mais
execráveis ações que lhes rendem bilhões, obstruindo seriamente o progresso do
país e o bem estarem do povo, mórmente nas áreas de Educação e Saúde. O
Movimento Negro com suas pertinazes reivindicações nas áreas sociais inquieta
os poderosas organizações antibrasileiras; pois a medida que a Comunidade
Negra, maioria demográfica do Brasil, historicamente escrachada por essa malta;
amplia sua consciência cívica, os privilegiados espaços ocupados por suas
quadrilhas vão diminuindo.
Com animalesca percepção as
organizações antibrasileiras compostas pelos mais vorazes patifes nacionais e
fraudulentos alienígenas tentam confundir o afrobrasileiro e as camadas
populares como um todo, com o fito de mantê-los alienados e socialmente
rebaixados e conformados....
A mídia que é um dos “braços
fortes” dessas organizações, procura esconder as berrantes segregações e discriminações
que cotidianamente oprimem mais de 100 (cem) milhões de brasileiros natos,
restringindo-lhes criminosamente seus direitos fundamentais. A influente mídia
com a mesma desfaçatez que omite o tenebroso “apartheid” aqui vigente faz
estardalhaço com um pueril caso de “falso racismo”, tipificado como injuria e
“eles” sabem....
O negro apresenta-se no futebol
como em outras atividades esportivas, mercê de suas inatas habilidades, com
magistral resplendor como Adhemar Ferreira da Silva, bicampeão mundial de salto
triplo e “João do Pulo” na mesma modalidade, Daiane dos Santos na ginástica,
Popó no pugilismo e muitos outros em várias modalidades esportivas.
O brilhante desempenho do negro
nos esportes provoca naquelas sofisticadas corjas que infestam as “classes
dirigentes” do país, uma inquietante preocupação, pois o negro no Brasil, não
pode (para essas canalhas) ser admirado ou respeitado.
Com esse pífio raciocínio a bandalha racista tenta
insidiosamente transtornar essa digna empreitada do negro que exige das
instituições respeito a sua plena cidadania. E como de costume, utiliza-se de
seu poder de influência, perpetrando cinicamente uma grotesca farsa de solidariedade aos negros.
Trágico para a Comunidade Negra,
esse embuste conhecemos desde o século XIX, quando da elaboração das................”leis
abolicionistas”.
Ao fazer estardalhaços, fingindo
indignação como no caso da torcedora gremista e omitir desfaçadamente os
inumeráveis casos de racismo e segregação que acontecem todos os dias no
Brasil. Constatamos mais uma vez com muita tristeza e profundamente
envergonhados que as instituições brasileiras oficiais e oficiosas continuam;
apesar da tecnologia, tacanhamente estagnadas como no fim do século XVIII.
São Paulo, novembro de 2014
Genésio de Arruda