quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Racismo

Racismo a brasileira

Semanas atrás durante a disputa de uma partida de futebol entre duas das mais renomeadas equipes do Brasil, ocorreu um lamentável incidente que não é raro, mas que neste caso ganhou repercussão devido as seqüência do seu desenvolvimento fora do gramado.

 O “Grêmio Porto-alegrense” recebeu em seu estádio na capital gaucha o “Santos Futebol Clube”. Essas duas agremiações futebolísticas ostentam em seus históricos, conquistas das mais relevantes, sendo que tanto um quanto o outro já foram campeões mundiais. Por isso são muito respeitados e sempre que se enfrentam proporcionam aos milhares de torcedores momentos de grande emoção.

A imoderada torcida gremista a maioria vestindo a tri colorida camisa azul, preta e branca ocupava mais de 90% das arquibancadas e desde os primeiros minutos estendia suas imensas bandeiras e agitava suas flâmulas alusivas a cada uma das suas “facções” com grande alarido.

Iniciada a porfiria desenrolava-se com aquela intensidade característica dos grandes embates esportivos entremeada de lances notáveis e medianos de ambos os lados, até que o Santos fez um gol, para desgosto dos gremistas que voltaram dispostos a empatar e virar no 2º tempo. Uma coisa que nenhum torcedor gosta é ver seu time perder em casa, imagine um gaucho torcedor do Grêmio, um time campeão.

As torcidas quando vão aos estados levam na cabeça além do barrete ou chapéu com as cores do seu clube, inúmeras formas de incentivar os seus craques e ao mesmo tempo variados e ultrajantes vocábulos para envilecer os atletas adversários.

A maioria dos torcedores vai aos estádios para estimular seu clube, logicamente na expectativa de alcançar a satisfação de lazer, passatempo ou mania. Mas a verdade é que hoje muitos vão aos campos de futebol para desabafar anonimamente, seus diferentes recalques e complexos.
Esses calhórdas disfarçados de torcedores, quando em maioria utilizam-se de grossas ofensas aos craques adversários para pertubá-los. Aplaudindo o seu time e apupando o rival, o torcedor educado já faz seu papel, todavia muitos excedem-se estupidamente. Careca, cabeludo, alto, baixo, gordo, magro, feio, narigudo etc, tudo é mote para esses cafajestes insultaremos visitantes.

Agora quando o time da casa está perdendo, como naquele jogo e a equipe visitante tem atletas negros, a situação agrava-se, pueril e vergonhosamente.  Por que: no Brasil, rico país construído com suor e sangue africanos, o negro tem sido histórica e criminosamente pisoteado. Consoante a tão sórdida prática um grupo de torcedores do Grêmio passou a ofender grosseiramente o goleiro do Santos, o Aranha, que indignado mostrou ao juiz os torcedores que estavam atormentando-o injuriosamente, xingando-o de tudo quanto é nome, chamando-o insistentemente de macaco.

A recalcada torcedora foi encontrada e tachada de racista pela mídia (TV, rádio, jornais etc, foi “apedrejada” pelas redes sociais, vindo a sofrer repressões. Dizem que foi expulsa da torcida organizada até perdeu o emprego. Quanta hipocrisia e cinismo! Como sempre acontece nesse tipo de ocorrência logo apareceram às personalidades “midiáticas e os indefectíveis cientistas sociais” e políticos “democratistas” a comentar o caso. Todos demonstrando solidariedade ao negro Aranha e condenando a torcedora, atribuindo-lhe a pecha de abominável racista.

Uma coisa passo afirmar: “Racista ela não é”
Você vai dizer: “Como não é racista, se ela chamou um negro de macaco e reconheceu isso pedindo desculpas ao goleiro Aranha?

Explico:
A torcedora assustada com a repercussão do caso e diante das evidências mostradas pela TV, não tinha alternativa e reconheceu o seu erro, e, instruída ou induzida pediu desculpas ao santista. Entretanto, mesmo que ela não pedisse desculpas, não poderia ser indiciada como racista”.  Agora você me olha admirado, pois sabe que sou veterano ativista do Movimento Negro e me diz: “não estou entendendo a sua posição se todo mundo diz que ela é racista e você veterano do Movimento Negro vem defender essa moça?

Eu respondo:
Acontece que o racismo praticado no Brasil é um crime (quase) perfeito.
O nobre professor Kabenguelê Munanga um dos mais competente e honesto estudioso das relações étnico/raciais do Brasil. Afirmou em entrevista a uma revista o ano passado que... ”o racismo brasileiro é o crime perfeito”.

Ao ler a reportagem admirei a coragem do emérito cientista congolês aqui radicado há décadas, pois que dos tais sociólogos, etnólogos e cientistas sociais brasileiros é um mar de asneiras e cínicas distorções o que mais se vê. No caso da torcedora gremista fica evidente que houve um insidioso “conluio midiático” para conferir-lhe o rótulo de racista, com o qual não concordo por razões óbvias:

1º) Conforme o exposto lá em cima. É cultural nos campos de futebol, torcedores de uma equipe, apuparem os atletas adversários estendendo as hostilidades a torcida rival.
2º) Todos torcedores, jornalistas, dirigentes, policiais, juízes e auxiliares, empresários, patrocinadores e publicitários sabem disso. Qualquer garoto/a que já foi a um campo de futebol também.
3º) Os torcedores só insultam os atletas negros da equipe adversária, aplaudindo e bajulando os negros do seu time, chegando a registrar seus filhos com os nomes de atletas negros.
A imensa torcida corintiana refere-se ao Palmeiras como Porco e aos palmeirenses como porcos. Os palmeirenses por sua vez referem-se aos corintianos como gambás, maloqueiros, trombadinhas etc. Corintianos e palmeirenses xingam os são paulinos de Bambi, que é um veadinho. Os são paulinos tratam corintianos e palmeirenses por seus apelidos zoológicos naturalmente.

Quando uma equipe está jogando mal e o técnico tentando melhorar, faz uma substituição errada, milhares de torcedores do próprio time apupam-no chamando-o de: Burro, burro...burro,como ocorreu com o Geninho, técnico do Corinthians. Os exemplos similares são muitos por aqui, o que evidência que esse comportamento dos torcedores faz parte do “folclore futebolístico brasileiro”. E nada disso é racismo é uma grosseria. Não estou dizendo que aceito o estúpido comportamento dessa moça e seus colegas gremistas, mas repito, isso não é racismo. É reflexo de sua grosseira falta de educação associada aos seus prováveis complexos de inferioridade puerilmente vomitados das arquibancadas em direção ao “Aranha””, que provavelmente, tem um padrão de vida melhor que o dela e seus familiares.

Se processada a gremista poderá ser condenada a pagar uma pequena multa, prestar serviços a uma entidade social e ou ser proibida de freqüentar estádios de futebol por tempo limitado.

Onde está o Racismo?
Então porque a mídia fez esse estardalhaço!

Não é fácil explicar, mas vou tentar.

Os meios de comunicação (TV, rádio, jornais, revistas, cinema, teatro etc) são administrados pelas “classes dirigentes” do país, cujo princípio há mais de 160 anos é manter o negro segregado, marginalizado e submisso.

Por exemplo, quando uma equipe entra em campo, mormente nos grandes jogos, é comum cada craque levar uma criança pela mão vestindo o uniforme do clube. Raras vezes vi uma criança negra. As equipes inglesas e francesas levam sempre crianças negras e brancas.

Entre as principais equipes do país, que pagam salários altíssimos aos seus técnicos, entre 50 e 500 mil reais mensais, rarissimamente encontramos um negro como técnico e temos excelentes profissionais negros nesse estratégico setor. Acompanho futebol desde fins da década de 1940 e nunca vi um presidente de clube renomado no Brasil; negro. Raramente aparece um diretor, mesmo subalterno negro.

Entre os cronistas de futebol que também são muito bem remunerados, dificilmente encontramos negros. Um ou outro, mas por pouco tempo durante as copas.
Negros como juízes de futebol só começaram a aparecer nos últimos 30 anos, o que é um absurdo proporcionalmente em relação ao número de atletas negros praticantes do esporte mais popular do país. Na Confederação Brasileira de Futebol, a poderosa CBF não entra, a não ser quando em caso de “indisciplina” vais ser julgado e quase sempre recebe pena mais rigorosa do que aquela aplicada aos outros atletas.

Todas essas evidências de discriminação e segregação racial, estupidamente praticada contra o negro no futebol brasileiro, tipificam claramente o crime de racismo e são sobejamente conhecidas pelas nossas autoridades; tanto as esportivas quanto as outras autoridades e órgãos representativos oficiais como OAB - Ordem dos Advogados do Brasil por exemplo.

Ao que parecem, nossas instituições oficiais e oficiosas ao fazerem sistematicamente “vistas grossas” aos contumazes infratores, incitam-nos a prosseguirem em suas ignóbeis práticas, afrontando insolentemente a nossa legislação diante da complacência do sistema juridiciario brasileiro.

O Falso Racismo

Ao tentar capciosamente transformar aquela simplória gremista como seu “Bode expiatório”, a torpeza da súcia racista explode de forma berrante. Fazendo estardalhaço em torno de um caso que evidentemente não é racismo, a corja segregacionista tem como objetivo prioritário enfraquecer a luta dos afro-brasileiros pelo “direito a Igualdade Racial”, secularmante aspirada pela Comunidade Negra.

Quando participou da “3ª conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata”, realizado em Durban África do Sul, entre agosto e setembro de 2001. O Movimento Negro, representado por diversas entidades que atuam em nosso país pelo “Direito a Igualdade Racial, demonstrou estatisticamente que; a estarrecedora concentração de renda no Brasil, só favoreceu os eurodescendentes e outros minoritários grupos étnicos alienígenas, aqui recentemente estabelecidos.

Forçados a reconhecer as injustiças historicamente perpetradas contra os negros, as autoridades brasileiras assumiram o compromisso de diminuir as clamorosas desigualdades entre negros e brancos no Brasil.

As Cotas para Pobres/Negros

Entre as várias propostas apresentadas pelo Movimento Negro em Durban em 2001, constam a instituição oficial de reserva de vagas para negros nas universidades e faculdades do ensino superior, ou seja, “Cotas”, percentuais para negros e pobres. O ponto referencial é que os aspirantes as cotas devem ter um currículo do ensino básico em escolas públicas, cuja deterioração é notória nas últimas décadas no Brasil. Até 2002, 93% (noventa e três por cento) dos negros estudavam em escolas públicas. No Brasil só negros e aborígenes estudam em escolas públicas, os outros grupos étnicos somente em caso de pobreza.

“Outra medida proposta pelos representantes do Movimento Negro, foi à inclusão da História da África, dos africanos e de seus descendentes, os negros, no currículo pedagógico oficial” com o respeito merecido, sem as injuriosas distorções e/ou as fraudulentas omissões cometidas por “difamadores velhacos” travestidos de compendistas e historiadores.

As recomendações de Durban em 2001 foram enviadas ao nosso presidente, mas como de costume, o Sr. Fernando Henrique Cardoso, desdenhou-as puerilmente. Somente após a posse de Lula em 2003 é que foram levadas a sério, tanto que em seus primeiros dias no Planalto assinou a Lei Federal 10.639/2003, que oficializou as cotas para negros e pobres no Brasil.

Foi Lula que implementou medidas acessórias em todos os setores do seu governo instando-os a tomarem medidas objetivas no processo de inserção dos negros social e profissionalmente, decretando uma série de iniciativas propulsoras a elevação da auto estima do afro-brasileiro como individuo e a Comunidade Negra como um todo.

Várias medidas tomadas em setores fundamentais do governo federal instavam governadores, prefeitos e autoridades de modo geral a desenvolver e/ou apoiar medidas de estímulos as “Ações Afirmativas” em relação aos negros no contexto histórico brasileiro. O PROUNI, por exemplo, entre 2005 e 2007 ofereceu 414 mil bolsas universitárias, das quais 44% foram conquistadas por jovens negros que em muitos casos superaram os outros não cotistas em seu aproveitamento a nível catedrático “quebrando a cara” dos ineptos analistas sociais brasileiros, sectários retardados do charlatão Agassiz, execrável picareta internacional, aloprado cupincha do infame José Artur Gobineau.

Resumindo; embora a maioria dos negros e afrodescendentes ainda permaneçam alienados e dóceis, os ativistas do Movimento Negro, tem alcançado com muita pertinácia aumentar o espaço que lhe é devido na sociedade brasileira, tendo como um dos mais efetivos meios as “Ações afirmativas”.
Em outubro de 2012, o jornalista Elio Gaspari comentava em sua página dominical na “FSP”, a transformação que as “Ações Afirmativas” operavam no ensino superior no Brasil. Os negros que antes do Lula presidente só entrava nos campus universitário (quando entravam) como faxineiros e/ou porteiros, agora graças as “Cotas Sociais e Raciais” já são visíveis em números consideráveis, surpreendentes mesmo. De acordo com a matéria do Elio Gaspari, em fins de 2012, 265 mil cotistas já tinham concluído diversos cursos superiores naquele ano.

A verdade é que o acesso do afrobrasileiro aos campus universitários veio ampliar sua vida social elevando sua auto estima. Os setores oficiais obrigados a enfocar de modo honesto e realista a importância da África, do africano e do negro no árduo processo de constituição do Brasil como nação, levaram igualmente outros segmentos étnicos aqui radicados, a reconsiderar seus injustos e equivocados conceitos soe o negro no Brasil.

A nova postura da sociedade brasileira reconhecendo a fundamental importância do africano e do negro na consolidação do nosso país física e material, escravizados por m ais de 350 anos, mas também e principalmente pelas extraordinárias doações intelectuais advindas da milenar diversidade cultural africana.

As “Ações Afirmativas” promovendo a Consciência de Cidadania entre os afrobrasileiros, além de combater a perversa desigualdade aqui reinante contribuiu efetivamente para o desenvolvimento do Brasil.
É quase impossível uma nação progredir quando mais da metade de seu povo é marginalizada e constrangida, como tem sido o negro no Brasil, um país ainda ocupado. Mais esclarecido e preparado os negros exigem das autoridades respeito aos seus direitos constituídos, isto é; querem melhorar a sua qualidade de vida, recebendo das instituições oficiais os mesmos tratamento dedicados aos outros segmentos étnicos aqui estabelecidos nos últimos 160 anos.

A bandeira da Igualdade Racial empunhada pelo Movimento Negro é antes de tudo um brado contra a injustiça social que sufoca o nosso povo e tem recebido apoio de brasileiros de todas as origens aqui viventes. Infelizmente o nosso rico país, suporta infiltrado em postos relevantes de sua administração, poderosos grupos que tanto nas áreas públicas quanto nos mais influentes setores privados; perpetram as mais execráveis ações que lhes rendem bilhões, obstruindo seriamente o progresso do país e o bem estarem do povo, mórmente nas áreas de Educação e Saúde. O Movimento Negro com suas pertinazes reivindicações nas áreas sociais inquieta os poderosas organizações antibrasileiras; pois a medida que a Comunidade Negra, maioria demográfica do Brasil, historicamente escrachada por essa malta; amplia sua consciência cívica, os privilegiados espaços ocupados por suas quadrilhas vão diminuindo.

Com animalesca percepção as organizações antibrasileiras compostas pelos mais vorazes patifes nacionais e fraudulentos alienígenas tentam confundir o afrobrasileiro e as camadas populares como um todo, com o fito de mantê-los alienados e socialmente rebaixados e conformados....

A mídia que é um dos “braços fortes” dessas organizações, procura esconder as berrantes segregações e discriminações que cotidianamente oprimem mais de 100 (cem) milhões de brasileiros natos, restringindo-lhes criminosamente seus direitos fundamentais. A influente mídia com a mesma desfaçatez que omite o tenebroso “apartheid” aqui vigente faz estardalhaço com um pueril caso de “falso racismo”, tipificado como injuria e “eles” sabem....

O negro apresenta-se no futebol como em outras atividades esportivas, mercê de suas inatas habilidades, com magistral resplendor como Adhemar Ferreira da Silva, bicampeão mundial de salto triplo e “João do Pulo” na mesma modalidade, Daiane dos Santos na ginástica, Popó no pugilismo e muitos outros em várias modalidades esportivas.

O brilhante desempenho do negro nos esportes provoca naquelas sofisticadas corjas que infestam as “classes dirigentes” do país, uma inquietante preocupação, pois o negro no Brasil, não pode (para essas canalhas) ser admirado ou respeitado.

Com esse pífio raciocínio a bandalha racista tenta insidiosamente transtornar essa digna empreitada do negro que exige das instituições respeito a sua plena cidadania. E como de costume, utiliza-se de seu poder de influência, perpetrando cinicamente uma grotesca farsa de solidariedade aos negros.
Trágico para a Comunidade Negra, esse embuste conhecemos desde o século XIX, quando da elaboração das................”leis abolicionistas”.

Ao fazer estardalhaços, fingindo indignação como no caso da torcedora gremista e omitir desfaçadamente os inumeráveis casos de racismo e segregação que acontecem todos os dias no Brasil. Constatamos mais uma vez com muita tristeza e profundamente envergonhados que as instituições brasileiras oficiais e oficiosas continuam; apesar da tecnologia, tacanhamente estagnadas como no fim do século XVIII.

São Paulo, novembro de 2014


Genésio de Arruda